Pare e olhe em volta!
- Sérgio Boaventura
- Jul 29, 2014
- 8 min read
Duas amigas entram em um bar (nossa, isso parece o começo de uma piada muito ruim!). Tudo bem... Duas amigas entram em uma cafeteria e se sentam perto da janela para observar o movimento da rua. Ambas haviam acabado de sair da faculdade e resolveram passar um tempo juntas para saber das novidades.
Melanie era alta, seus cabelos eram loiros um pouco puxados para o castanho, seus olhos eram cor de mel e era bem delicada. Seu rosto era um tanto infantil e poderia facilmente se passar por uma adolescente de dezesseis anos. Além disso, ela gostava de se vestir roupas florais e usava um óculos estilo nerd que a deixava muito fofa.
Já sua amiga Melissa era um tanto diferente. Ela era um pouco mais baixa (mas não chegava a ser baixinha), tinha os cabelos castanhos bem escuros, olhos verdes que herdara da mãe e não parecia ser muito delicada. Mel tinha mais cara de mulher e quando era menor sempre conseguia enganar as pessoas e se passava de mais velha, não que ela costumasse fazer coisas erradas. Gostava de usar camisas, blusas de ombro caído e jeans, quando possível usava salto, porém na maioria das vezes preferia uma sapatilha ou o bom e velho All Star.
Elas poderiam até parecer diferentes, mas sua amizade vem de muito tempo atrás! Tudo começou com as suas mães que eram grandes amigas, o que fez com que elas crescessem juntas.
— Eu preciso de interação social, Anie! — Melissa bufou e agarrou o celular da Melanie com as mãos — não esse tipo! — ela apontou para ele e revirou os olhos.
Anie ajeitou os óculos com o dedo indicador e bufou.
— Eu só estava vendo um e-mail! Parece que você está tendo uma crise existencial mulher! Se acalme! — ela puxou o celular de volta e o guardou na bolsa — estou pronta para ouvir tudo o que você tem a me dizer!
— Eu preciso de contato humano! — Anie tocou no braço de Mel — não assim! — ela bufou e Anie riu com a reação da amiga — todos os dias eu converso com milhares de pessoas, mas nenhuma delas parece real!
— Eu entendo Mel! Nós vivemos encarando rostos sorridentes em fotos de pessoas nem tão felizes assim — ela respirou fundo com pesar.
— Essa é a pior parte! — Melissa deu um gole em seu latte quente — você sabe que eu sou uma pessoa tímida, mesmo não parecendo — Anie assentiu ouvindo tudo o que a amiga falava — você sabe que depois que o Brandon morreu, eu não saio muito e nem tenho tempo por causa da faculdade...
— Aonde é que a senhorita quer chegar? — Anie deu um gole em seu frapuccino gelado.
— Olhe em volta e veja o que você me diz... — Mel apoiou a testa nas palmas da mão e ficou em silêncio por um instante enquanto Anie encarava o ambiente que as cercavam.
Ela não estava entendendo nada do que sua melhor amiga de infância estava tentando lhe contar. “Talvez a Mel tenha endoidado de vez”, ela pensou consigo mesma, respirou fundo duas vezes e começou a encarar as pessoas...
Aparentemente elas pareciam bem normais, vestidas com agasalhos leves por conta do vento que fazia lá fora, algumas pessoas estavam sentadas em mesas grandes com os amigos, outras estavam concentradas em um notebook ou tablet.
— Não estou vendo nada de diferente, Mel... — ela deu uma olhada rápida novamente e sua amiga levantou a cabeça.
— Exatamente! — Anie levantou uma sobrancelha confusa — viu! Já é normal para todo mundo e isso me irrita! Sabe aquela mesa de amigos? O que está faltando nela? — Melanie a encarou enquanto a amiga apontava para o grupo de pessoas com a cabeça.
— Não sei... talvez ela esteja um pouco quieta... Eu ainda não entendo aonde você quer chegar Mel! Fala logo! — ela já estava ficando impaciente. Anie odeia ficar sem entender aquilo que as pessoas falam.
— É isso mesmo, as pessoas não conversam mais... quer dizer... não pessoalmente, agora é tudo na base dos dedinhos... — ela revirou os olhos inconformada — onde está aquela emoção de um cara chegar em você e de vocês conversarem? Onde está aquela vergonha de conversar com pessoas que estão naqueles encontros de livros? Está tudo quieto! Ninguém mais ouve a voz de ninguém! E eu estou farta! — ela bufou e tomou um longo gole de sua bebida.
Naquele momento Anie sentiu seu celular vibrando na bolsa, poderia ser qualquer coisa, mensagens, e-mails, publicações no facebook... Ela respirou fundo e se controlou para não resgatar o celular na próxima vibrada que ele desse.
— Eu entendi o que você quer dizer Mel... mas você viveu a vida inteira assim... talvez você ainda esteja meio abalada por causa do Brandon... — ela colocou a mão no ombro da amiga que se desvencilhou.
— Claro que não! — Mel jogou o cabelo para trás — Eu só quero fazer novos amigos! Como é que eu vou conhecer alguém pelo celular? — Anie sorriu de lado como se tivesse encontrado uma resposta que mudaria todo o universo.
— Já ouviu falar de encontro online? Ou quem sabe um bate-papo? — Melissa levantou uma sobrancelha inconformada, ela se perguntava por que é que a amiga não a entendia.
— Melanie! Eu não quero isso! Nós não estamos conhecendo pessoas de agora! Não conversamos mais com os amigos que estão na nossa frente! Quantas vezes nós saímos com toda a turma da faculdade e eles ficaram segurando o celular durante o jantar inteiro?! Parecia que eles não queriam estar ali! Eu me senti mal com aquilo... Poxa, nós saímos para conversar e eles ficam no celular falando com qualquer outra pessoa que não esteja na mesa?! Poxa, então não vá para os encontros!
— Você falou “poxa” duas vezes... então é sério! — Anie abriu a boca tentando fazer a amiga rir.
— Melanie, eu estou falando sério! você já parou para pensar quanto tempo faz que você não passa o dia com sua mãe? Ou quantas conversas você já teve pessoalmente? Nós não estamos mais fazendo isso... as crianças já perderam total interesse nos brinquedos! As pessoas não pensam mais com a cabeça! As máquinas fazem tudo por nós, uns colegas da faculdade usam calculadora para fazer contas fáceis! Se desesperam se o celular está sem bateria! Parece que o ele é um tipo de HD externo do cérebro humano! — parecia que Melissa estava gritando e se sentia sufocada por dentro.
— Melzinha, você está muito alterada... eu acho que você precisa de uns dias em um spa... Ou quem sabe você precise estourar algumas daquelas bolhas que vem junto com pacotes...
— Você ainda não entendeu! Arg! — ela revirou os olhos — eu me sinto um robô, eu olho para as pessoas e é como se elas fossem bonecos coadjuvantes do The Sims! Elas vivem, mas através de uma tela!
— Você citou The Sims! — Anie sorriu — você precisa se acalmar Mel! Não é o fim do mundo!
— Tudo bem... — ela revirou os olhos — eu preciso ir... tenho trabalho para fazer... — ambas respiraram fundo assim que lembraram que tinham coisas “mortais” para fazer.
— Claro, eu também... até mais tarde, Mel — as duas se despediram com um beijo no rosto.
— Até mais tarde, Anie!
Melissa saiu caminhando pelas ruas da cidade. Estava frio, então ela andava como se estivesse encolhida. Pegou o celular por um segundo e o encarou. “Queria ter me tornado menos máquina e mais humana nesses últimos tempos...” pensou consigo mesma e o desligou. Notou um homem sentado em um banco e pensou em começar uma conversa... “Talvez assim eu possa encontrar alguém...”.
— Nossa... como está frio hoje! — o homem nem sequer levantou a cabeça para encará-la.
Ele estava pensando “Essa mulher está realmente falando comigo sobre o frio?”. Ela não pareceu se importar com a atitude e insistiu.
— Você é do tipo caladão... entendi... — ela estava vermelha, mas não era por causa do frio! Melissa estava surpresa com a sua extrema cara de pau!
— Na verdade não — ele a encarou pela primeira vez e seus olhos se cruzaram.
— Hm... que bom! — ela já havia mudado de ideia e queria sair dali o mais rápido possível. Ela se levantou e ficou surpresa quando ele segurou em seu braço.
— Hey... gostei de você — ele deu um sorriso de lado que pareceu atravessar seu peito — Qual seu nome? — ele sorriu normalmente afrouxando sua mão, mas continuou segurando com medo que a moça misteriosa fosse embora.
— Melissa Dellmans e você? — ela perguntou um pouco animada e suas bochechas pareceram corar menos.
— Fernando Mingot! Eu tenho que ir, você se incomodaria em passar o número do seu celular? — Melissa começou a ferver por dentro, ela não queria conhece-lo por um aparelho, ela queria conhece-lo pessoalmente!
— Claro... — ela falou desanimada — você vai me mandar mensagem? — ela perguntou com um tom de voz aborrecido.
— Claro que não! Vou ligar para você e então vamos marcar de sair! — ele se levantou e disse sorrindo — até porque eu adorei ouvir sua voz — ela corou mais rápido do que esperava e eles se despediram com um breve beijo no rosto.
Melissa chegou em casa feliz e surpresa por ter conversado com um desconhecido e deixou o celular de lado pelo resto da tarde, só pretendia atender à ligações no resto do dia.
Ao cair da noite, logo após o jantar, ela recebeu um telefonema do tal Fernando, ela havia passado a tarde inteira com vontade de olhar em seu facebook e descobrir mais sobre ele, mas se conteve. No final eles marcaram de ir almoçar juntos no dia seguinte e foi ai que ela soube que aquela foi a melhor decisão de sua vida!
Olá gente! Espero que vocês tenham gostado do textinho e refletido um pouquinho sobre ele! Alguém ai entendeu a mensagem que eu quis passar? Pena que eu não consigo encaixar a caixa de comentários no blog... mas se vocês quiserem comentem no link do texto que eu vou deixar no Face ou me mandem e-mails clicando ali na aba Contato! Eu sempre procuro postar os e-mails respondidos aqui mesmo no blog! (Então vocês repararam que eu não recebo muitos e-mails, mas os poucos que eu recebo são especiais, viu gente!). Bom, para finalizar o post com estilo, eu deixo aqui um vídeo para vocês que meio que me inspirou a fazer esse texto!
A minha frase preferida desse vídeo é "We are the generations of idiots, smartphones and dumb people"(Nós somos uma geração de idiotas, telefones inteligentes e pessoas burras).
A primeira vez que eu ouvi essa frase foi como se as palavras tivessem saído da minha própria boca, eu admito que passo grande parte do dia conectada, mas em certos momentos eu faço questão de não tocar no meu celular! Por exemplo, na escola, em encontro com amigos, quando eu estou com crianças por perto e até quando eu viajo (dependendo do lugar).
Já parei para pensar o quanto somos dependentes, eu vejo isso através das pessoas que eu conheço! Perguntas desconhecidas são facilmente respondidas sem adquirir nenhum conhecimento, contas são feitas em calculadoras, informações que poderiam ser importantes não são absorvidas!
Eu vejo quanta besteira existe na internet e vejo como isso afeta as pessoas. É engraçado ver certas coisas e compartilhar coisas com os amigos, mas e as coisas que realmente fariam alguma diferença no nosso cotidiano? Como talvez curiosidades sobre história, corpo humano, humanidade.
Eu já ajudei uma amiga minha em um trabalho para a escola onde nós perguntávamos quem era Charles Darwin, pouquíssimos souberam responder! Sendo que na internet existem várias imagens representativas sendo modificadas para o humor! Sabe aquela famosa imagem de um macaco "sofrendo mudanças" até virar um homem (ou um Homer Simpson muito pançudo)? Isso está relacionado com sua teoria (pelo menos na origem).
Pare de pensar com o seu HD externo eletrônico, comece a pensar com o próprio cérebro!
Eu tentei fazer um textinho descontraído, porque geralmente quando eu falo desses assuntos mais sérios, eu faço um post enorme com todas as minhas opiniões... bom acho que não deu muito certo, mas o que vale é a intenção! Boa Tarde/Noite meus pandas!
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